quinta-feira, março 16, 2006

Este artigo foi escrito com base na leitura do documento escrito pelo Prof. Luis Borges, chamado “Memórias Póstumas do Dr. Arendt. Panfleto Sincero de recepção de um livro sobre Simões Lopes Neto”. E, foi publicado no Diário Popular em 07/06/2005 e, no Diário da Manhã em 08/06/2005.
A ARMA DA CRÍTICA

Daniel Lemos*

Embora esteja um pouco distante da data de seu lançamento, ocorrido no dia 04/05/05 no CEFET, não deixa de ser oportuno registrar e, tecer algumas considerações sobre o trabalho “Memórias Póstumas do Dr. Arendt. Panfleto Sincero de recepção de um livro sobre Simões Lopes Neto”, de Luis Borges. Afinal de contas nunca é demais divulgar as contribuições teóricas, que são elaboradas a respeito do mais ilustre escritor pelotense, principalmente quando se trata de um estudo de tamanha qualidade, de autoria de um dos grandes pesquisadores da vida e da obra de João Simões Lopes Neto.

O ensaio de Borges é dividido em 10 capítulos, além da introdução, onde apresenta ao leitor e, em seguida problematiza, as origens de seu mal-estar com a publicação do livro “Histórias de um Bruxo Velho”, em Setembro de 2004 escrito pelo Prof. João Cláudio Arendt, da Universidade de Caxias do Sul. Ele é uma versão da Tese de Doutoramento, defendida pelo Professor Caxiense no ano de 2000, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), e trata da obra do autor dos Contos Gauchescos.

Na introdução de seu Panfleto, Luís Borges, afirma que a principal razão de suas críticas à criação do Dr. Arendt, é porque a considera um “acervo de velhas novidades” e, trata da primeira à última página de explicar as razões desse ponto-de-vista. No primeiro capítulo, denominado O percurso editorial de Simões Lopes Neto, aponta as inúmeras falhas de cunho metodológico, no que se refere à forma de estudar uma gama tão elevada de material editorial, cujo levantamento completo ainda está por ser realizado, do autor de Lendas do Sul, bem como as imprecisões de ordem cronológicas estampadas ao longo do texto do Professor da UCS.

Logo em seguida, no segundo capítulo, Borges escancara e ironiza a confusão feita pelo Dr. Arendt sobre a primeira edição dos Contos Gauchescos, e de outros textos, publicadas pela Livraria Universal, ao citar o trecho em que o Prof. Caxiense rememora uma história pitoresca acontecida na Feira do Livro de Pelotas no ano de 1987. No terceiro capítulo, é apontada a forma negligente e apressada com a qual João Cláudio Arendt trata a questão dos pseudônimos de Simões Lopes Neto, ignorando fontes e informações preciosas a respeito de tema tão importante para o entendimento da produção do notável escritor pelotense, conforme aponta Luis Borges no princípio do capítulo.

Na seqüência da polêmica, o autor das Memórias Póstumas do Dr. Arendt, apresenta as seguintes problematizações: Simões Lopes Neto: o autor, a obra, o meio e a origem; O escritor João Simões Lopes Neto foi ou não reconhecido em vida?; Da estância da Graça à Sorbonne; Carlos Reverbel e o resgate da obra de Simões Lopes Neto; Simões Lopes Neto e as dez obras fundamentais da bibliografia sul-rio-grandense; O diálogo de Simões Lopes Neto com a tradição e por último, Mito, identidade e imaginário social em Contos gauchescos e Lendas do Sul – nestes dois últimos tópicos Borges apenas procede um resumo dos mesmos, visto que, em seu entendimento são as melhores partes do livro.

Entretanto, ao longo do ensaio, apesar do tom ácido que o caracteriza, Luis Borges não deixa de tecer elogios a algumas questões pontuais da tese do Dr. Arendt, que acredita apresentar alguma validade.

Por último, resta sublinhar a importância da leitura destes dois trabalhos, que apesar da controvérsia que está em sua raiz, são de suma importância para aqueles que buscam aprofundar, ou mesmo iniciar, o estudo sobre a criação de João Simões Lopes Neto. E, a arma da crítica sempre é um bom instrumento de provocação à prática da leitura, especialmente em tempos de tão elevado desprezo às manifestações da criação intelectual, no Brasil.

* Prof. de História
Acadêmico de Direito/UFPel

terça-feira, março 14, 2006